Os Fios da Matéria
1/6/1996
 

Os recentes trabalhos de Del Pilar Sallum mantêm um embate pendular entre a energia da matéria e o movimento. Este se ocupa primeiro em acumular obsessivamente mais e mais matéria, isto é, fios metálicos espessamente enrolados em suas mãos, até atingir um grau de rigidez e saturação potencializado, para em seguida propor à matéria que se suavize, quando os fios iniciam um processo de desdobramentos, ao serem em parte desenrolados. Num ponto exato de deslocamentos de tensão, essa distensão dos fios redesenha no espaço linhas que permitem aos objetos uma expansão dilacerante. São corpos, são casulos, volumes que se dilatam e se esgarçam, mesmo quando reconhecíveis. Ganham leveza matérica, leveza acrescida pela iridescência metálica tornada mais volátil, mas não esquecem a dor que os engedrou. Os nichos internos afloram ao olhar no espaço tridimensional, deixando entrever marcas e cicatrizes, também rebatidas nos registros fotográficos das mãos entumecidas que sofreram na pele a contensão imobilizante das amarras que as envolveram. Agora livres, essas mãos, que “lavram na penumbra os cristais” como no poema de Borges, haviam imprimido marcas sensuais e profundas de densidade simbólica, ao reescreverem na pele metáforas de uma história da feminilidade. 

(Folder). Exposição Programa de Exposições 96 - Centro Cultural São Paulo; 1996

 

Stella Teixeira de Barros