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Corpo/Suporte
1/6/1995

 

A impressão enquanto ação sobre uma superfície que pode deixar sua marca em outros corpos é o cerne do trabalho de Del Pilar. 

Na presente mostra, traz a público duas séries de trabalhos que têm em comum a presença de seu próprio corpo como matriz-suporte, as alterações que sofre durante o processo e o registro do tempo. Em ambas, evidencia em sentido literal as impressões que os objetos lhe impõem, as reações intrínsecas de seu organismo a eles, assim como as condições que sua pele e estrutura física determinam superfícies e outros corpos no mundo externo. 

Os títulos com que nomeia o primeiro conjunto de obras aludem diretamente às questões existentes entre o tempo e as formas. "Oito minutos", "Quinze minutos" e "Vinte minutos" explicitam o tempo que leva para enrolar os fios de latão em torno de si mesma. Com cuidado, Del Pilar molda seus dedos e mão para usa-los como moldes e buscar resultados que não sejam sua transcrição mais óbvia. 

Manuseia o metal com atenção para não provocar ferimentos, mas seguindo a lei física fundamental, a matéria inerte age em reação ao que lhe é imposto, provocando pequenos estrangulamentos e alterações de cor na matéria viva. Sua vontade de construir supera o desconforto, e a forma que cada volume assume depende do tempo de resistência à pressão. Misto de instrumento de proteção e tortura, a bizarra luva depois de descalçada guarda em sua forma a lembrança da mão, da mesma maneira que a textura da pele conserva as marcas do metal. 

O segundo grupo de trabalhos é constituído por pequenos quadrados de papel dispostos lado a lado configurando uma faixa sutil, colocada na altura dos olhos do observados. Esses fragmentos ressaltam a unicidade, o sentido agudo e a banalidade dos gestos desprevenidos do dia a dia. Chamam a atenção para as digitais não só como matrizes únicas de impressões reveladoras de identidade, mas também como canais de percepção de realidade externa e de comunicação do universo interior. Ora mais decididos ora mais tênues, esses registros testemunham diversas ordens e atitudes. 

A artista problematiza, assim, os conceitos tradicionais da gravura tornando de dupla mão as relações matriz/prova impressa, impossibilitando a intenção de tiragem uniforme e ultrapassando os limites dos procedimentos gráficos. 

Grafia do cotidiano e no cotidiano. Del pilar usa o objeto plástico e a imagem impressa como metáfora de como se deixa impressionar pelo mundo e como nele deixa sua marca. Chama a atenção para a noção franciscana que tais marcas embora modestas e passageiras são únicas, e que clamam pela responsabilidade quantos às mudanças que provocam, mesmo que diminutas. 

(Folder). Exposição do Itaú Galeria em São Paulo; 1995

 

Maria Izabel Branco Ribeiro 

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